sábado, 12 de fevereiro de 2011

Outra Crónica: Gema de Ovo

A hora da refeição era sagrada, todos os irmãos sentados à mesa. Do meu lado esquerdo o meu Irmão (o mais velho de todos), à minha direita a minha Irmã mais nova (das irmãs), e à minha frente a minha Irmã mais velha. Minha Mãe com o seu lugar do meu lado (lugar cativo ainda hoje, em qualquer refeição), mas sem o tempo para se sentar, porque todos tinham as suas exigências e pedidos requintados, que demoravam a sua degustação da refeição descansada e em paz, na conformidade da mesa, onde estavam os seus filhos que tanto batalhava para que nada lhes faltasse.
Numa bela noite, já exausta da labuta, e de tanto labirinto financeiro, que na ginástica do vencimento mensal. Alimentar quatro bocas, mais a renda de casa, mais o essencial… Mais tudo e ainda algo mais, que uma MULHER sente na ausência de um exemplar esposo, marido, companheiro, pai de seus filhos, que faz de sua vida a pacata vida de um solteiro sem obrigações… Após todas as exigências e requintes de seus “clientes”, eis que surge a sua explosão, e num exagero de tom de voz, em que se salienta o seu desespero de “O que é que querem que eu faça?”… A minha inocência para os seus problemas só me deu para a confortar com o que eu tanto mais adorava comer… Gema de ovo.

P.S- Relato verídico de um acontecimento. Relato de um agradecimento a minha Mãe, que além de nunca me ter faltado com nada, sempre me deu (com conta peso e medida CLARO) gema de ovo que me sabe pela vida, assim como a sua ainda viva VIDA… Troco a gema de ovo por Si, a gema guardo-lhe o sabor, e dissipasse no paladar. O seu Amor, nem nenhum outro se assemelha a Si.

domingo, 6 de fevereiro de 2011

Acordar de manha e não ter que vestir

Frio intenso tem não esquina
não se finta por esquiva.
Nem se urde com o que se vista
só por ter alguma pinta.

                       Tudo lhe fica bem
                       seja algodão ou caxemira.
                       Qualquer peça o satisfaz,
                       seja sem cor ou colorida.

Frio intenso sai nu à rua,
mas nunca por se vestir.
O frio anda sempre agasalhado,
mesmo quando não têm com que se urdir.

                        Podem ser tantos
                        que não complementem o seu jus,
                        mas outros tantos se consolam
                        com o que reduz.

Frio não tem esquina,
não têm perduro…
É o vento, é a brisa;
É o nevoeiro que o seduz.
É a geada, é a neblina,
é a frente fria,
temperatura negativa
que tanto se lhe conduz…

                        Frio intenso não tem ranhura
                        Não tem fenda,
                        não tem quente enquanto dura
                        em todo o planeta.

    Ao Homem solitário, que todos os dias se deita com o mundo.
 

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Um conto Ilustrado



Era uma vez, a vez que foi a vez, e essa vez que finalmente era uma vez, ditou assim que foi essa a vez…
À beira de um lago, a um longínquo distante de qualquer lado, um muro de pedras encavalitadas, separava para um nada florescido de verde e castanho dourado, as águas serenas e paradas de uma passividade plácida em que ali se banhava a soledade. A seu tempo o Homem buscando a tranquilidade, procurou por todo o ermo espaço térreo, um local onde se pudesse banhar sem molhar, e assim repousar dos raciocínios que a actualidade o levava a contrariar ao seu bem-estar.
Percorreu montes e vales, planaltos e cumes. Nuns e noutros não se encontrou, em uns e em todos pouco se acomodou. Mas não descansou, enquanto não encontrou, o lugar ideal para se deleitar, de sua existência proletária, num mundo onde cada vez mais a concorrência, é o primeiro motivo de desistência.

Ao ver tanta beleza, na rocha, no verde, na água. O Homem decidiu finalmente que o seu lugar teria de estar perto de toda a natureza, e não excluir qual que fosse a sua forma. E mesmo perto do seu mundo, mas isolado do seu distúrbio. O Homem que procurava um descanso mudo e surdo, por pouco tempo que fosse, encontrou sem murmúrio o canto em que sua existência repousou, enquanto Homem lutador e sonhador, por um mundo que nunca o conquistou.

Na beleza das cores que circundantes, lhe enxugaram de sua vista as lágrimas, de tanta barbaridade assistida na sua lembrança. O homem se encantou no silencio de seu abafo a qualquer forma de existência, e por si só, com toda a sua firmeza, pediu a erguerem um canto abrigado, onde todo o Homem, filho do mundo e da paz, se pudesse recolher… Não por fraqueza, ou simples desistência… Mas sim, porque por vezes tem vezes, que era uma vez… E essa vez é com toda a certeza, não a última, mas simplesmente essa vez, em que ninguém sente a dureza, e se contempla a beleza.    



Dedico há Minha Cunhada, e a todos os (as) Açoreanos (as).
Abraço